quarta-feira, 22 de maio de 2013

A experiência EXTRAMUSICAL



Olá pessoal!

A introdução do filme usada como exemplo da experiência extramusical representa dois planos da escuta, ou seja, a música em si (áudio da cena) e as imagens e edição das cenas, que possuem um significado cuja experiência musical é complementar.
Relembrando, experiência extramusical são aspectos não musicais da música, como letras, dramas, que provocam respostas como imaginação, fantasia, dramatização etc. No filme usado como exemplo, temos que a composição entre som e imagem é o produto da experiência antecedente daquele que selecionou determinada música para determinada cena. Ou seja, o exercício de fazer adaptação musical aos eventos, demonstra o quanto fatores extramusicais da música estão presentes na experimentação musical.
Junto a esta observação, podemos notar que existe uma semelhança de sentido nas experiências artísticas, como, por exemplo, segundo Dr. Silvério Fritz comenta em seu blog Psicanálise e interpretações da cultura  sobre a fotografia.

De acordo com Dr. Fritz, a fotografia no início não era considerada uma forma de arte, uma vez que revelava apenas uma parte da realidade. Porém ao longo do tempo, sobre esta perspectiva observou-se que a fotografia além de mero recorte empírico da realidade, seria o retrato de uma realidade e de um devir temporal e, por sua vez, devido ao distanciamento desta realidade (tanto pelo ser/tempo como pela própria fotografia, ou seja, a imagem na foto é diferente da imagem no local) seria possível a criação de sentido e, como consequência, a expressão artística a partir de uma fotografia.

Até mesmo em relação à leitura, Gabriel Perissé menciona Rodrigo Lacerda “Além de saber ler é necessário saber o que está lendo [cria-se um leitor quando, depois de aprender a ler o que está escrito, aprende-se a ler o que não está]”.

E inclusive a respeito da própria música, no desenho animado The Simpsons: 

Lisa está ouvindo uma apresentação de jazz de violino e diz "Nossa que lindo!" O cara sentado na mesa ao lado diz "Lindo? Mais parece que ele está batendo numa porca com um gato" e, ela diz "você tem que ouvir as notas que ele não está tocando".

O conjunto de sons, contenções e distensões musicais são comuns a outros níveis de experiências (não-musicais), tal como palavras e imagens. É possível fazer a passagem entre uma ou outra linguagem, desde que se compreenda (semioticamente) o sentido.

Vale a pena citar compositores das músicas do filme e compreender o que pensam sobre a música, bem como suas atuações e composições musicais. Deste modo é possível captar ainda mais como determinadas músicas podem ser utilizadas de modo que sirva perfeitamente como complemento para aprofundar a experiência extramusical.


Um deles é Michael Stearns, compositor americano (1948). Na página inicial de seu site faz um comentário interessante:

 “Palavras e imagens compõe a estrutura simbólica sobre como criamos nossa realidade como indivíduos, cultura e espécie. Ao invés de experimentar diretamente o universo que habitamos, nós percebemos isso através da sobreposição simbólica do nosso diálogo interno e cultural. A música pode abrir portas para o que significa ser ser-humano, muito além das nossas definições culturais limitadas. Se o ouvinte está aberto a música, ela se torna um tapete voador carregando o participante num voo para o ser”.

Um vídeo...


Outra composição apresentado no filme é de L. Subramaniam, violinista indiano, cuja vida sonoro/musical é apresentada neste documentário:

Neste documentário L. Subramaniam conta sobre sua vida na música, o papel de sua família, a experiência com outros músicos e o significado da música para ele. Além disso é possível ouvir algumas composições.

Um documentário de 30 minutos, a legenda pode ser traduzida e, embora não seja muito boa, dá para entender perfeitamente.



LISTA DE MÚSICAS E COMPOSITORES do filme BARAKA
1.    "Bonus Track: Opening / Nepal Morning" - Kōhachiro Miyata - 6:01
2.    "Organics" - Somei Satoh - 4:45
3.    "Wipala" - Inkuyo - 5:06
4.    "The Host of Seraphim" - Dead Can Dance - 6:20
5.    "Village Dance" - Michael Stearns - 2:58
6.    "Varanasi Sunrise" - L. Subramaniam - 6:43
7.    "African Journey" - Anugama & Sebastiano - 3:37
8.    "Rainbow Voice" - David Hykes - 3:00
9.    "Monk with Bell" - Michael Stearns - 2:37
10. "Broken Vow" - Monks of the Dip Tse Chok Ling Monastery, Dharamsala - 4:42
11. "Finale" - Michael Stearns - 4:34
12. "End Credits" - Michael Stearns - 3:25


E, por fim, deixo postado alguns comentários interessantes que selecionei sobre o filme BARAKA:

Em Trombone, Baraka é mencionado como um poema visual:
Segundo os críticos, Baraka é um filme que, de modo não-verbal e não-linear, discute o sagrado e o humano; a ordem natural e a entropia; a santidade e o materialismo. Portanto, é um filme dialético, totalmente dependente da percepção e interpretação do espectador. Não importa quem você seja ou onde viva: você também está em Baraka.”; “A espiritualidade é latente no filme inteiro. (...) De acordo com a Antropologia, o aumento da capacidade cerebral fez com que o homem formulasse questões mais complexas, dentre elas de onde viemos e para onde vamos. A busca pela resposta levou diversas culturas diferentes a admitirem a existência de um ser superior, um Deus. Em Baraka, é como se de repente todas as culturas resolvessem mostrar qual o seu Deus, sendo que o ocidente é responsável por algumas das imagens mais tristes e chocantes do filme. Na sua negação de um Deus primitivo que é objeto de cultos e sacrifícios, o ocidente cultua a mecanização, a ciência, colocando em segundo plano a humanidade, no sentido da compaixão. Esse é o significado da cena dos pintinhos dentro da máquina, o mesmo significado das cenas de guerra: nenhum.”

No Blog Psicanálise:interpretação da cultura 

 

O “silenciamento da linguagem falada provoca o estranhamento característico da experiência estética do filme. Ao calar, o filme liberta uma profusão de sentidos, deixando o espectador à mercê de seus próprios devaneios e interpretações. Tal como o eclipse que aparece com destaque no cartaz do filme, o silêncio põe em suspenso a clareza da linguagem e nos permite tomar distância em relação àquilo que, de tão claro, torna-se invisível: o fato de sermos seres cuja linguagem é o meio universal da experiência”.


“O fato de não termos fala pode nos iludir que estamos apenas observando a realidade, mas o fato é que o silêncio das palavras apenas permite que uma outra linguagem se articule: a semiótica das imagens”, “A foto não é a realidade, mas um parte da realidade representada e que, portanto, é dotada de intencionalidade e de significação”.
Por causa de suas características estruturais e de sua temática geral, Baraka  nos convida a pôr em suspenso os sentidos que atravessam e constituem nosso cotidiano, assumindo uma postura de reconhecimento e de contato com a alteridade dos fenômenos humanos que nos rodeiam. Essa atitude ética fundamental é o ponto de partida de toda e qualquer ciência humana, sendo assim a base do olhar do psicólogo, do “fenomenológo”, do psicanalista e do cientista social. Talvez seja essa a grande lição da Antropologia para o campo das ciências humanas: um olhar que subverte a postura etnocêntrica tradicional, procurando fazer a ponte de sentido entre o diferente e o semelhante, por meio de um duplo movimento interrogação do outro a partir do próprio e do próprio a partir do outro. Portanto, Baraka é por si só um verdadeiro exercício do olhar antropológico que nos lança em busca da resposta sobre a essência do humano.

Abraços,
Até mais! E fiquem com Baraka!




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