Olá pessoal,
Nesta
postagem pretendo falar sobre alguns elementos do processo de aprendizagem
musical que podem ser conversados a partir da musicoterapia e da psicopedagogia
musical.
Para tal, utilizarei como referência o livro “Estudos de psicopedagogia musical (do original Ocho estudios de Psicopedagogia
musical)” de Violeta Hemsy de
Gainza , educadora musical, psicóloga
social, pianista, que foi também presidente da associação de musicoterapia na
Argentina e membro da Comissão
Assessora da Carreira de Musicoterapia da Universidad de Buenos Aires.
Este
livro resume-se em abordar os aspectos principais do aprendizado musical e
diagnosticar os problemas do aprendizado.
A autora
descreve a complexidade da relação entre homem e música nos processos de escuta
e expressão musical, ou seja, um processo de carga-descarga-recarga ou
alimentação-expressão-retroalimentação.
No
processo de escuta temos, por exemplo: o direcionamento que um sujeito de
determinada faixa etária tem para timbres, estilos, o qual revelará tanto sua
preferência, quanto afetividade e capacidade motora.
Na
expressão (descarga), que é induzida pela recepção musical (carga) completa-se
o processo de musicalização, ou reeducação e terapia, quando o sujeito é capaz
de emitir respostas frente aos estímulos.
Na
musicoterapia, segundo Bruscia (1998), existe um processo de aprendizagem
musical quando “o foco é ajudar os clientes a adquirirem os conhecimentos,
comportamentos e habilidades necessários para uma vida funcional e independente
e, para a adaptação social” onde
o principal objetivo é o valor terapêutico do aprendizado, seja para adaptação
social, como já foi dito, ou mesmo para ajudar no desenvolvimento de outras
funções, como na reabilitação física, neurológica e também, no auxílio da
expressão no contexto terapêutico e na vida.
Continuando
com Gainza, a “ação musical produz uma descarga individual a nível corporal
e/ou psíquico”. (p.29) Ao se expressar, aquele que produz música tende a
demonstrar em menor ou maior capacidade determinados elementos musicais,
expressão que revelará seu sentido rítmico, harmônico, ou seja, sua
sensibilidade musical.
No
processamento do material sonoro, o sujeito está em intensa atividade mental,
que ocorre desde a metabolização do material sonoro absorvido até a expressão
corporal, sonora e verbal que engendra imaginação e fantasia. Tal processo, nas
palavras da autora, constitui um depósito rico e individual de experiência musical
que engloba tanto a intracomunicação (comunicação interna) quanto,
intercomunicação (que promove vínculo com diferentes pessoas por meio da
música).
A autora
também aponta que a expressão musical é projetiva, ou seja, elementos da
personalidade estão presentes na produção. Portanto, aquele que expressa tanto
erros ou capacidades, está em processo de expressão (p. 31) num complexo causa expressiva – ação expressiva
– produto expressivo, em que causa e ação acontecem internamente, enquanto
produto já se relaciona à transcendência e à autonomia, que diz respeito à
singularidade.
Então,
esse resumo diz respeito à conduta musical num processo de aprendizagem, que se
molda de acordo com a personalidade e estética do sujeito.
Uma vez
que o sujeito percebe elementos da música de forma simbólica, de tal modo que
esta possa modificar seu estado de humor ou reavivar uma memória de modo
intenso, pode ocorrer uma sensação, como diz a autora, de potência ou impotência musical (...) dando origem a sérias e
perigosas generalizações: “Não entendo a música” ou “Não posso fazer música”
significam, em tal caso, simplesmente: “Não entendo nada” ou “Não posso ou não
sirvo para fazer nada”. (p.35)
Já
presenciei tal sentimento de incapacidade nas pessoas ou em mim mesma, porque
ocorre exatamente o que a autora prosseguirá dizendo: um estado de fusão com a
música, pois sendo ela um elemento acessível, em primeiro plano, somente à
escuta, pode ocorrer em muitos momentos uma total imersão naquela situação
proposta pela música, de tal modo que se perdem os limites entre a mente e a
música.
Tal
fusão é um perigo também na musicoterapia, onde a experiência musical pode
levar o indivíduo a um estado indesejado no progresso da terapia. Tal elemento
é assunto nas formas iatrogênicas de aplicação da música em musicoterapia. Mas também, é recurso, para aqueles que precisam trabalhar com o
“imaterial”, “impalpável” que os afetam de alguma maneira, seja na condição
psíquica ou emocional. É preciso organizar determinados estímulos que recebemos.
A fusão
está relacionada também à simbiose estabelecida na relação mãe e filho, a
música, estando presente neste contexto, poderá fazer parte de um processo
simbiótico que acarretará tanto medos quanto anseios provenientes dos próprios
pais. Por exemplo, uma criança é direcionada às aulas de música porque os pais
desejariam tocar um instrumento e não puderam, ou porque os pais são músicos e
a criança deverá aprender um instrumento musical. Isso muitas vezes gera uma
confusão entre o dever e o prazer. Aquilo que poderia transmitir prazer, em
realidade passa a ser um dever para satisfazer a vontade de outrem, no caso os
pais.
Ainda
neste assunto, estas crianças que foram obrigadas, diriam para seus filhos que
“não os obriga a frequentar aulas de música” (justamente porque foram
obrigados), o que levaria à criança a tomar a responsabilidade de “fazer o que
quiser”. Já me deparei muito com essa situação, onde a criança encontra uma
dificuldade e os pais deixam por conta da criança decidir se deve continuar ou
não. E ainda sendo uma das poucas oportunidades de decidir algo sobre o que
quer ou não, música torna-se um dever a menos e, a criança opta por assistir
televisão ou jogar vídeo game ao invés de ter aulas de música...
Existem
situações onde a criança usa as aulas de música ou mesmo a prática de música
para manipular os pais, uma vez que estes gostam de música.
Resumindo
esta postagem.
Existe
um processo complexo no aprendizado musical. A música, devido sua propriedade
ondulatória pode ser confundida com conteúdos psíquicos que afetem o
desenvolvimento do indivíduo. No aprendizado musical e na vida do músico
profissional e amador, podem existir dificuldades relacionadas à fusão entre
sujeito e objeto música, estando o indivíduo incapaz de manipular, modificar e
controlar o objeto de trabalho, limitando-o a determinadas ações, sejam motoras
ou cognitivas. Para o professor ou escola de música, é importante saber e
explicar para os pais que muitas vezes uma dificuldade está associada a uma
confusão relativa à vontade do aluno, mas que isso não deve contrapor a
permanência deste aluno nas aulas e o ganho que o mesmo poderá ter na sua vida
social, afetiva, emocional, psicológica, cognitiva, educacional e, sim, que isso
deve ser revisto, conversado e esclarecido para, quem sabe, desbloquear na
família, todo este mal estar e frustrações vinculadas à música.
A
seguir: um vídeo oferecido por uma aluna muito especial.
Abraços
Denise
Adorei o Blog e o trabalho da tua aluna, parabens De... a perseverança é o caminho, bj
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