terça-feira, 6 de agosto de 2013

Aspectos da musicoterapia no ensino da música

Olá pessoal,

     Nesta postagem pretendo falar sobre alguns elementos do processo de aprendizagem musical que podem ser conversados a partir da musicoterapia e da psicopedagogia musical.

            Para tal, utilizarei como referência o livro “Estudos de psicopedagogia musical (do original Ocho estudios de Psicopedagogia musical)” de Violeta Hemsy de Gainza , educadora musical, psicóloga social, pianista, que foi também presidente da associação de musicoterapia na Argentina e membro da Comissão Assessora da Carreira de Musicoterapia da Universidad de Buenos Aires.

Este livro resume-se em abordar os aspectos principais do aprendizado musical e diagnosticar os problemas do aprendizado.
A autora descreve a complexidade da relação entre homem e música nos processos de escuta e expressão musical, ou seja, um processo de carga-descarga-recarga ou alimentação-expressão-retroalimentação.
No processo de escuta temos, por exemplo: o direcionamento que um sujeito de determinada faixa etária tem para timbres, estilos, o qual revelará tanto sua preferência, quanto afetividade e capacidade motora.
Na expressão (descarga), que é induzida pela recepção musical (carga) completa-se o processo de musicalização, ou reeducação e terapia, quando o sujeito é capaz de emitir respostas frente aos estímulos.

Na musicoterapia, segundo Bruscia (1998), existe um processo de aprendizagem musical quando “o foco é ajudar os clientes a adquirirem os conhecimentos, comportamentos e habilidades necessários para uma vida funcional e independente e, para a adaptação social” onde o principal objetivo é o valor terapêutico do aprendizado, seja para adaptação social, como já foi dito, ou mesmo para ajudar no desenvolvimento de outras funções, como na reabilitação física, neurológica e também, no auxílio da expressão no contexto terapêutico e na vida.
Continuando com Gainza, a “ação musical produz uma descarga individual a nível corporal e/ou psíquico”. (p.29) Ao se expressar, aquele que produz música tende a demonstrar em menor ou maior capacidade determinados elementos musicais, expressão que revelará seu sentido rítmico, harmônico, ou seja, sua sensibilidade musical.
 No processamento do material sonoro, o sujeito está em intensa atividade mental, que ocorre desde a metabolização do material sonoro absorvido até a expressão corporal, sonora e verbal que engendra imaginação e fantasia. Tal processo, nas palavras da autora, constitui um depósito rico e individual de experiência musical que engloba tanto a intracomunicação (comunicação interna) quanto, intercomunicação (que promove vínculo com diferentes pessoas por meio da música).
A autora também aponta que a expressão musical é projetiva, ou seja, elementos da personalidade estão presentes na produção. Portanto, aquele que expressa tanto erros ou capacidades, está em processo de expressão (p. 31) num complexo causa expressiva – ação expressiva – produto expressivo, em que causa e ação acontecem internamente, enquanto produto já se relaciona à transcendência e à autonomia, que diz respeito à singularidade.
Então, esse resumo diz respeito à conduta musical num processo de aprendizagem, que se molda de acordo com a personalidade e estética do sujeito.
Uma vez que o sujeito percebe elementos da música de forma simbólica, de tal modo que esta possa modificar seu estado de humor ou reavivar uma memória de modo intenso, pode ocorrer uma sensação, como diz a autora, de potência ou impotência musical (...) dando origem a sérias e perigosas generalizações: “Não entendo a música” ou “Não posso fazer música” significam, em tal caso, simplesmente: “Não entendo nada” ou “Não posso ou não sirvo para fazer nada”. (p.35)
Já presenciei tal sentimento de incapacidade nas pessoas ou em mim mesma, porque ocorre exatamente o que a autora prosseguirá dizendo: um estado de fusão com a música, pois sendo ela um elemento acessível, em primeiro plano, somente à escuta, pode ocorrer em muitos momentos uma total imersão naquela situação proposta pela música, de tal modo que se perdem os limites entre a mente e a música.
Tal fusão é um perigo também na musicoterapia, onde a experiência musical pode levar o indivíduo a um estado indesejado no progresso da terapia. Tal elemento é assunto nas formas iatrogênicas de aplicação da música em musicoterapia. Mas também, é recurso, para aqueles que precisam trabalhar com o “imaterial”, “impalpável” que os afetam de alguma maneira, seja na condição psíquica ou emocional. É preciso organizar determinados estímulos que recebemos.
A fusão está relacionada também à simbiose estabelecida na relação mãe e filho, a música, estando presente neste contexto, poderá fazer parte de um processo simbiótico que acarretará tanto medos quanto anseios provenientes dos próprios pais. Por exemplo, uma criança é direcionada às aulas de música porque os pais desejariam tocar um instrumento e não puderam, ou porque os pais são músicos e a criança deverá aprender um instrumento musical. Isso muitas vezes gera uma confusão entre o dever e o prazer. Aquilo que poderia transmitir prazer, em realidade passa a ser um dever para satisfazer a vontade de outrem, no caso os pais.
Ainda neste assunto, estas crianças que foram obrigadas, diriam para seus filhos que “não os obriga a frequentar aulas de música” (justamente porque foram obrigados), o que levaria à criança a tomar a responsabilidade de “fazer o que quiser”. Já me deparei muito com essa situação, onde a criança encontra uma dificuldade e os pais deixam por conta da criança decidir se deve continuar ou não. E ainda sendo uma das poucas oportunidades de decidir algo sobre o que quer ou não, música torna-se um dever a menos e, a criança opta por assistir televisão ou jogar vídeo game ao invés de ter aulas de música...
Existem situações onde a criança usa as aulas de música ou mesmo a prática de música para manipular os pais, uma vez que estes gostam de música.
Resumindo esta postagem.
Existe um processo complexo no aprendizado musical. A música, devido sua propriedade ondulatória pode ser confundida com conteúdos psíquicos que afetem o desenvolvimento do indivíduo. No aprendizado musical e na vida do músico profissional e amador, podem existir dificuldades relacionadas à fusão entre sujeito e objeto música, estando o indivíduo incapaz de manipular, modificar e controlar o objeto de trabalho, limitando-o a determinadas ações, sejam motoras ou cognitivas. Para o professor ou escola de música, é importante saber e explicar para os pais que muitas vezes uma dificuldade está associada a uma confusão relativa à vontade do aluno, mas que isso não deve contrapor a permanência deste aluno nas aulas e o ganho que o mesmo poderá ter na sua vida social, afetiva, emocional, psicológica, cognitiva, educacional e, sim, que isso deve ser revisto, conversado e esclarecido para, quem sabe, desbloquear na família, todo este mal estar e frustrações vinculadas à música.

A seguir: um vídeo oferecido por uma aluna muito especial.





Abraços
Denise


Um comentário:

  1. Adorei o Blog e o trabalho da tua aluna, parabens De... a perseverança é o caminho, bj

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