Referente à postagem anterior
Experiência pré-musical. O autista.
Olá pessoal!
Irei aprofundar a análise das experiências musicais sobre os
vídeos.
É o primeiro filme da trilogia Qatsi. Direção de Godfrey
Reggio e composição musical de Philip Glass.
O nome é de origem
Hopi e significa "vida maluca, vida em turbilhão, vida fora de equilíbrio,
vida se desintegrando, um estado de vida que pede uma outra maneira de se
viver".
A intenção do diretor
foi a de criar uma experiência a fim de que cada um crie sobre ela seu
significado.
Segundo Bruni e Canguçu
(2009) no artigo “Análise das estratégias de efeito no filmeKoyaanisqatsi” , existe no filme a composição de elementos que
levam à experiência de tensão e relaxamento e; uma estrutura de “situação-reviravolta-desenlace”
(típicos de dramas humanos), mesmo não existindo uma narrativa com personagens, onde “a situação seria o mundo natural; a reviravolta seria a
chegada da humanidade e; o desenlace, o apocalipse previsto na profecia Hopi”
(p.96).
Na experiência pré-musical, cujo filme
serviu de exemplo, minha intenção esteve direcionada à composição das imagens,
com foco no ritmo delas (muito ressaltado pela repetição musical), na repetição
da própria imagem pela filmagem ou pelo agrupamento de coisas/imagens criadas
pela tecnologia humana, as quais apresentam ritmo em si mesmas pela
repetição de elementos, movimento natural repetitivo como os vários exemplares
de máquinas produzindo o mesmo movimento, paisagens com objetos repetidos
postos de modo simétrico, movimento e desenvolvimento da fumaça/detritos após
explosão, repetição de formas nos objetos (quadrado, círculo, retângulo e até
pessoas como forma, forma de pessoas), carros em movimento surgindo e
desaparecendo; viadutos/formas/estruturas, sugestão de motores/ritmos,
agrupamento de coisas, enfileiramentos, aproximação e queda de objetos.
Estes elementos são comuns à música,
podemos associar subjetivamente qualidades do som e da música a imagens. Como
por exemplo, ritmo/máquinas em movimento, melodia/movimento da
fumaça/detritos; andamento/carros em movimento nas ruas; duração/qualidade
das formas; compasso/proporção.
Neste mesmo artigo, os
autores ressaltam a característica minimalista na composição das imagens. Resumidamente,
o movimento minimalista é formado por repetição e longa duração de uma mesma situação. No caso da música, repetição de sons durante um longo período.
Ao falarmos de
musicoterapia, temos a experiência do autista como exemplo. A musicalidade do
autista está relacionada com tais elementos, ou seja, longa duração e repetição
de movimentos e sons. É possível contribuir muito com o autista quando compreendemos
a música minimalista, bem como a música concreta (saiba mais: Leomara Craveirode Sá – musicoterapeuta – em seu livro A teia do tempo e o autista: Música e Musicoterapia).
Quando penso em experiências
musicais no ponto de vista de Bruscia às vezes soa como algo ultrapassado, dado
o desenvolvimento de pesquisas e reflexões sobre obras de artistas como JohnCage, ou do desenvolvimento da pedagogia musical hoje, como de MurraySchafer. Percebe-se na atualidade,
embora ainda pouco, que imagens podem naturalmente se converter em sons, que
percepção sinestésica pode contribuir muito com a percepção sonoro/musical,
mais do que exercícios exaustivos de percepção musical. Que um arrastar de
cadeiras pode ser um gesto sonoro; que existe ritmo nos hábitos diários e, que
se existe alteração neles, provavelmente existe alteração no indivíduo,
representando algo importante em sua vida. Tais elementos auxiliam muito a
compreensão do musicoterapeuta, como também, do autista no seu dia a dia.
Quando me referi ao
bebê (seus balbucios, sua condição de raiva (bruxismos), sua repetição e a
falta de olhar, bem como do contato que tive com ele com os instrumentos
musicais) como uma experiência pré-musical; estava implícito que já há algum tempo
experimentava esta situação, percebendo e me acostumando musicalmente, notando
quando ela se tornava mais forte, quando parava, quando trazia algum gesto
novo. Assim, no momento em que me aproximei dele, já conhecia seus gestos
sonoros e havia percebido que existia abertura e reação à música, e concluía que
muito de seu gesto era interesse e gosto pelas atividades musicais, mas ao
mesmo tempo, também havia falta de entendimento/experiência quanto ao grupo, ou
quanto ao “outro além da mãe” e, por conseguinte, resistência de sua parte. Eu
senti que precisava me aproximar e, de acordo com seu gesto sonoro, interagir.
Minha atitude não foi
lhe dar algo para tocar, porque não havia interesse visual, não foi também
conversar com ele para acalmá-lo, mas me aproximar física e sonoramente, como
se “todo este tumulto sonoro organizado/desorganizado se aproximasse de mim e
me atualizasse”. [foi como senti que o bebê “pensou”]
Existiu o processo de
ressonância (desde o momento que apenas convivi com seu gesto sonoro e depois
me apresentei sonoramente) e, também, existiu esta experiência musical de ser
(empaticamente) um bebê que produz balbucios e se comunica desta forma.
Falar de experiência
musical é, acima de tudo, abrir um novo canal de comunicação. É por esta via
que se desenvolve uma relação musicoterapêutica e onde se concentram pesquisas.
Também neste campo são abertas as portas para uma compreensão do homem a partir
do seu universo sonoro, superando determinados limites ao entrarmos no mundo do
sensível.
Até o próximo
comentário sobre a experiência musical! Um abraço
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