domingo, 20 de maio de 2012

Comentários sobre os vídeos

 Referente à postagem anterior

   Experiência pré-musical. O autista.

Olá pessoal!

Irei aprofundar a análise das experiências musicais sobre os vídeos.


É o primeiro filme da trilogia Qatsi. Direção de Godfrey Reggio e composição musical de Philip Glass.
 O nome é de origem Hopi e significa "vida maluca, vida em turbilhão, vida fora de equilíbrio, vida se desintegrando, um estado de vida que pede uma outra maneira de se viver".
A intenção do diretor foi a de criar uma experiência a fim de que cada um crie sobre ela seu significado.

Segundo Bruni e Canguçu (2009) no artigoAnálise das estratégias de efeito no filmeKoyaanisqatsi” , existe no filme a composição de elementos que levam à experiência de tensão e relaxamento e; uma estrutura de  “situação-reviravolta-desenlace”  (típicos de dramas humanos), mesmo não existindo uma narrativa com personagens, onde “a situação seria o mundo natural; a reviravolta seria a chegada da humanidade e; o desenlace, o apocalipse previsto na profecia Hopi” (p.96).

Na experiência pré-musical, cujo filme serviu de exemplo, minha intenção esteve direcionada à composição das imagens, com foco no ritmo delas (muito ressaltado pela repetição musical), na repetição da própria imagem pela filmagem ou pelo agrupamento de coisas/imagens criadas pela tecnologia humana, as quais apresentam ritmo em si mesmas pela repetição de elementos, movimento natural repetitivo como os vários exemplares de máquinas produzindo o mesmo movimento, paisagens com objetos repetidos postos de modo simétrico, movimento e desenvolvimento da fumaça/detritos após explosão, repetição de formas nos objetos (quadrado, círculo, retângulo e até pessoas como forma, forma de pessoas), carros em movimento surgindo e desaparecendo; viadutos/formas/estruturas, sugestão de motores/ritmos, agrupamento de coisas, enfileiramentos, aproximação e queda de objetos.

Estes elementos são comuns à música, podemos associar subjetivamente qualidades do som e da música a imagens. Como por exemplo, ritmo/máquinas em movimento, melodia/movimento da fumaça/detritos; andamento/carros em movimento nas ruas; duração/qualidade das formas; compasso/proporção.

Neste mesmo artigo, os autores ressaltam a característica minimalista na composição das imagens. Resumidamente, o movimento minimalista é formado por repetição e longa duração de uma mesma situação. No caso da música, repetição de sons durante um longo período.

Ao falarmos de musicoterapia, temos a experiência do autista como exemplo. A musicalidade do autista está relacionada com tais elementos, ou seja, longa duração e repetição de movimentos e sons. É possível contribuir muito com o autista quando compreendemos a música minimalista, bem como a música concreta (saiba mais: Leomara Craveirode Sá – musicoterapeuta – em seu livro A teia do tempo e o autista: Música e Musicoterapia).

Quando penso em experiências musicais no ponto de vista de Bruscia às vezes soa como algo ultrapassado, dado o desenvolvimento de pesquisas e reflexões sobre obras de artistas como JohnCage, ou do desenvolvimento da pedagogia musical hoje, como de MurraySchafer. Percebe-se na atualidade, embora ainda pouco, que imagens podem naturalmente se converter em sons, que percepção sinestésica pode contribuir muito com a percepção sonoro/musical, mais do que exercícios exaustivos de percepção musical. Que um arrastar de cadeiras pode ser um gesto sonoro; que existe ritmo nos hábitos diários e, que se existe alteração neles, provavelmente existe alteração no indivíduo, representando algo importante em sua vida. Tais elementos auxiliam muito a compreensão do musicoterapeuta, como também, do autista no seu dia a dia.
Quando me referi ao bebê (seus balbucios, sua condição de raiva (bruxismos), sua repetição e a falta de olhar, bem como do contato que tive com ele com os instrumentos musicais) como uma experiência pré-musical; estava implícito que já há algum tempo experimentava esta situação, percebendo e me acostumando musicalmente, notando quando ela se tornava mais forte, quando parava, quando trazia algum gesto novo. Assim, no momento em que me aproximei dele, já conhecia seus gestos sonoros e havia percebido que existia abertura e reação à música, e concluía que muito de seu gesto era interesse e gosto pelas atividades musicais, mas ao mesmo tempo, também havia falta de entendimento/experiência quanto ao grupo, ou quanto ao “outro além da mãe” e, por conseguinte, resistência de sua parte. Eu senti que precisava me aproximar e, de acordo com seu gesto sonoro, interagir.
Minha atitude não foi lhe dar algo para tocar, porque não havia interesse visual, não foi também conversar com ele para acalmá-lo, mas me aproximar física e sonoramente, como se “todo este tumulto sonoro organizado/desorganizado se aproximasse de mim e me atualizasse”. [foi como senti que o bebê “pensou”]
Existiu o processo de ressonância (desde o momento que apenas convivi com seu gesto sonoro e depois me apresentei sonoramente) e, também, existiu esta experiência musical de ser (empaticamente) um bebê que produz balbucios e se comunica desta forma.

Falar de experiência musical é, acima de tudo, abrir um novo canal de comunicação. É por esta via que se desenvolve uma relação musicoterapêutica e onde se concentram pesquisas. Também neste campo são abertas as portas para uma compreensão do homem a partir do seu universo sonoro, superando determinados limites ao entrarmos no mundo do sensível.  


Até o próximo comentário sobre a experiência musical! Um abraço

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